terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Air Guitar

As minhas visitas à FNAC são já um costume na quadra natalícia (como quem busca incessantemente uma nova receita, ou procura uma nova fórmula para os já conhecidos doces de Natal). A tradição voltou a cumprir-se.

Outro dos meus costumes é, e já imerso naquele universo de apelo e atracção, a também já tradicional volta de reconhecimento – as novidades e os tops, as promoções e packs económicos, as áreas temáticas (com o metal, a nova música portuguesa e a música do mundo em principal destaque), os DVD, os gadgets (onde suspiro sempre por uma abrupta queda de preço do ipod) e o vinil (na secreta esperança de que o gira disco que repousa tranquilo em casa de meus pais, venha um dia a ser meu). Mas neste ano que agora acaba, dei por mim preso a um jovem que, descontraidamente, ocupava o seu tempo (e o seu espaço) numa envolvente sessão de Guitar Hero.

Qual Kirk Hammett em pleno solo (jogava-se o temático de tributo aos Metallica) o rapaz desdobrava-se pelo corpo da guitarra (não esquecendo os pormenores de manivela indicados no visor), na tentativa de acompanhar os poderosos riffs e jogos de dedos do conhecido guitarrista. Depressa me lembrei das longas sessões de Air Guitar proporcionadas pela já desaparecida Compact da Sony, que tanto me animavam no antigo quarto do segundo andar.

A prática do Air Guitar é para muitos uma vergonha e um acto escondido, um tique inevitável e quase constante quando se assiste a um concerto, uma forma de arte e/ou uma prática (quase) profissional (de alguns anos a esta parte, são já muitos os concursos organizados).

Para mim Air Guitar foi risco, em solos desenfreados às escondidas dos meus pais, foi constrangimento, na tentativa de lhes mostrar um instrumento que só eu via, foi sonho, na espera do meu primeiro grande concerto. Para mim Air Guitar foi o primeiro sinal de uma grande paixão.


As (minhas) melhores músicas para a prática de Air Guitar





sábado, 10 de abril de 2010

Supersónico

Depois do segundo golo do Liverpool, veio a confirmação oficial. O Bandido só entrava às 22h.
Quando entrei numa Aula Magna que prometia boa assistência, estava longe de imaginar casa cheia - mais longe estava de imaginar o que teria Manel Cruz preparado para o seu mais recente projecto, Foge Foge Bandido.
Cinco minutos após o desmoronar do sonho europeu do meu Benfica (ficando na sala a solução para o problema "atraso"), o Bandido entrou em palco e pôs na mesa um dos seus trunfos (diga-se em abono da verdade, que excelentemente acompanhado de uma sólida quadrilha). Aplausos (merecidos) concluídos e senti que este não seria um concerto de ouvir e cantar, mas de experimentar.
O mote de Borboleta, a apoteose de Canção da Canção Triste, a par de temas como Canção Zero, Tempo Sem Mentira e Eleva foram as iguarias de uma noite de Luz (apenas a necessária para enquadramento dos diferentes elementos e que, na minha opinião, teria mais brilho se se mantivesse o quadro original da sala, em detrimento do fundo negro), Experiência, Som.
Se já há mistério na transfiguração de uma catedrática sala universitária numa mítica sala de espectáculos, foi sónica a forma arrojada como Nuno Mendes, Eduardo Silva, António Sérginho, Nicolas Tricot e o próprio Manel Cruz pareceram recriar um complexo laboratório experimentalista. Tudo serviu, tudo valeu, tudo se transformou - as guitarras pareciam tocar apenas o óbvio, havia uma profundidade quase nostálgica nas notas do baixo, a bateria electrónica suava a espacial, elevaram-se os sintetizadores, coroaram-se as percussões, tachos, serrotes e um ensurdecedor clarinete foram reinventados e a voz de Manel que, no sopro ou no seu esplendor, não nos fez esquecer as suas origens.
Quando se soltou este Bandido, num projecto que parecia difícil de transpor para palco e que resultava em prestações suadas e por vezes problemáticas (longe vão os tempo do Festival para Gente Sentada), poderá ter-se pensado que esta seria apenas mais uma face do homem que tornou míticos os Ornatos Violeta (curioso o facto de se terem extinto no auge e de hoje serem admirados por quem nunca teve oportunidade de os ver). Na passada quinta-feira, em duas horas de um concerto supersónico, Manel Cruz provou que este mais que projecto, é na realidade uma verdadeira banda.
Valeu a pena ter entregue o ouro a este Bandido (só foi pena o meu Benfica).










sábado, 3 de abril de 2010

Bola preta, bola branca

O que terão os nomes Volbeat, High On Fire, Fear Factory e Gojira em comum? Para já, o facto de assegurarem as primeiras partes da World Magnetic Tour em território europeu - o caso português, com maior desenvolvimento em Maio no Pavilhão Atlântico, foi resolvido com a escolha dos dinamarqueses Volbeat para o aquecimento de mais uma prestação dos Metallica em solo luso.
Quando, em meados de 2001, surge em Copenhaga uma banda com influências tão díspares como Metallica, Elvis Presley e Johnny Cash, ninguém imaginaria que teriam emergido dos ambientes death metal.
Michael Poulsen entra no mercado pela mão dos pesados Dominus e, em sensivelmente dez anos, consegue gravar duas demos e editar quatro álbuns. No entanto, cansado do panorama e das características da cena do metal mais duro, decide dar nova interpretação e novo rumo às suas influências musicais - não renegando ao que mais lhe havia motivado cria os Volbeat, nome inspirado num dos registos de originais do seu anterior colectivo (Vol. Beat).
Acompanhado pela guitarra de Thomas Bredahl, pelo baixo de Anders Kjolholm e pela bateria de Jon Larsen, Poulsen, responsável pelas vocalizações da banda e dono da sua segunda guitarra, tem conduzido os dinamarqueses num percurso pouco acidentado e bem sucedido. Viram já o seu nome aclamado em revistas da especialidade (destaque para a alemã RockHard), é reconhecida a sua energia e entrega em palco (principalmente no circuito nórdico), por diversas vezes ombrearam com alguns dos monstros da industria de peso (com a inclusão em cartazes de importantes festivais com bandas como Megadeth, Nightwish, Slayer ou Anthrax).
Por veredicto dos próprios Metallica, por questões de agenciamento, por contrato editorial ou por mera disponibilidade, alguns milhares de fãs dos Four Hoursemen terão a oportunidade (ou a obrigação) de assistir à prestação dos Volbeat em dois dias de concerto, marcados para 18 e 19 de Maio próximo, e a possibilidade de espreitar o seu novo trabalho com lançamento agendado para Setembro deste ano.


segunda-feira, 8 de março de 2010

domingo, 7 de março de 2010

Não ser cego, surdo, nem mudo

Quando no passado dia vinte, e ainda a propósito do concerto de B Fachada no Fórum Cultural de Alcochete (ver publicação do dia vinte e dois), me despedi do próprio Bernardo prevendo o nosso próximo encontro para o fim de Abril próximo, menti. Não se enganou o Fachada (que acabo de saber ser nome de família), quando me disse que o projecto Diabo na Cruz resulta bem melhor ao vivo, que no seu registo de estúdio – “mesmo que só se goste mais ou menos do disco”. Estava então longe de adivinhar que o veria de braguesa ao colo, dançando no palco do S. Jorge.
Com, pelo menos, uma hora de atraso, o Diabo soltou-se para virar a noite lisboeta. Em toada mais hard que folclore, com casa cheia e direito a convidados de luxo na plateia – Samuel Úria, João Só e Joaquim Albergaria (ex Vicious Five) estavam presentes –, o quinteto alfacinha iniciou o seu espectáculo na capital com um tema que, não figurando no alinhamento eleito para o seu álbum de apresentação, respondeu de imediato à pergunta anteriormente lançada pelo meu anfitrião. O que traz este Diabo a palco, com vinte e oito minutos de disco gravado?
Entre o corridinho das modas que passam pelas bocas de um bom, e já grande, público (e a avaliar pela casa cheia) – Tão Lindo, Corridinho de Verão, Os Loucos Estão Certos e Dona Ligeirinha, as mais aguardadas, dançadas e aplaudidas –, o Diabo vociferou pela voz de Jorge Cruz (parecendo encarnar um Chris Cornell transmontano), que se fez maestro de uma noite que cumpriu, respondeu às expectativas, mas que, ainda assim, pareceu curta em festa e arraial (a braguesa de B Fachada foi quase sempre inibida pelo excessivo volume do virtuosismo do baixo de Barata, pelo ribombar das batidas de Pinheiro e a excelência de João Gil).
No próximo dia trinta de Abril, Alcochete abre as portas ao Diabo para o virar de mais uma data na sua campanha. A minha reserva está feita e por cá os espero... graciosamente.

domingo, 28 de fevereiro de 2010

O lugar do Sol

Guardo num cantinho da memória o dia em que, orgulhosamente, assinei o meu nome no colarinho de Nuno da Câmara Pereira (num LP com fotografia do próprio em pose monárquica qb) para que, com o mesmo orgulho, o oferecesse a meu pai, a propósito do seu aniversário – o dia e o tempo em que o Círculo de Leitores era das poucas fontes que jorrava música lá por casa. Há data, era o fado o que mais se ouvia.
Estaria a mentir, nem seria honesto comigo próprio, se afirmasse que o fado se diluiu ou desapareceu da minha história com a música. Sigo com entusiasmo a reinvenção do fado na obra de Mariza, o glamour na voz de Ana Moura, agradam-me as raízes do fado faduncho de Carminho.
E se de repente o fado se envolvesse num projecto folk e, em fusão com a música tradicional escandinava, resultasse numa sonoridade popular transeuropeia? – É isso que nos propõe o Stockholm Lisboa Project.
Simon Stalspets (mandola nórdica, harmónica e voz), Sérgio Crisóstomo (violino e voz), Luís Peixoto (bandolim, bouzouki e voz) e Liana (voz) uniram as pontas da Europa, com o objectivo primeiro de enaltecer as suas raízes culturais. Em Sol, primeiro registo do projecto editado em 2007 e só recentemente por mim descoberto, transportam os seus ouvintes numa viagem entre a polka, o bairrismo lisboeta, a lezíria ribatejana e os cantares tradicionais portugueses – nota elevada para a recolha da tradição folk portuguesa e arranjos musicais, nota moderada para a escolha dos fados (para mim, talvez um pouco óbvios).
Dan Lundgerg, etnomusicologista e director da Svenskt visarkiv Musician, pergunta "haverá algo que una a polka sueca ao fado português?". Talvez o seu lugar ao sol.



segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Senhor trovador

Era uma vez .Podia ter começado assim o concerto que B Fachada deu no último sábado no Fórum Cultural de Alcochete - B de Bernardo, Fachada justificando, talvez, a utilização do B.
Semente germinada no solo fértil da Flor Caveira, o trovador de Cascais subiu ao palco, que reconheceu ser bom para o teatro, como quem caminha numa procissão - cabisbaixo, violas a alumiar o caminho (pese o facto de ter sido o primeiro pagão a gravar para a já referida editora). Sentado ao piano, luxo que confessou (a fonte segura) não ser de um artista pobre, fez esquecer a maldade meteorológica que se abatia lá fora e destilou versos e canções, numa noite que se fez provençal.
Como quem canta para a torre de um castelo ou ora em praça pública, B Fachada laureou-se de canção em canção, do piano para a viola, de viola em viola, de estória em estória, num misto de amor, escárnio e extrema boa disposição. De passeio no pónei dourado ou à chamada do seu novo homónimo, não faltaram Só te Falta Seres Mulher, Kit de Prestidigitação, Responso para Maridos Transviados, Conceição ou o mais corrido Estar à Espera ou Procurar.
Na noite que confessou estar (ainda) a aprender o timing certo para regressar em encore, B Fachada cantou solene, brindou-nos (quase) à capela e despediu-se tal como se me dera a conhecer - sentida e vigorosa prestação de Zé!.
Veio a pé e merecia ter saído de Cadillac. E é ainda muito novo!

domingo, 14 de fevereiro de 2010

(ainda o) Mercado de 2009 (III)

Foram necessários vinte e oito anos, sensivelmente uma dezena de álbuns em nome próprio e muito sucesso com a sua mais emblemática banda, para mergulhar na sonoridade de Morrissey.
Stephen Patrick Morrissey, adopta o seu nome de família e em 1982, após a emergência do movimento punk dos anos 70, assume-se como a voz dos Smiths. Anos antes, tentara um lugar nos Slaughter & the Dogs e cantara nos Nosebleeds, mas foi a parceria com Johnny Marr que o transformaria numa das grandes descobertas da pop britânica.
A caminhada entre 1984 e 1986, faz dos Smiths uma banda que deixaria o seu legado e o seu lugar na história. Entre singles de êxito, especulações sobre a sua orientação sexual, manipulação dos órgãos de comunicação e posições políticas polémicas, Morrissey cresce, estabelece-se e desmorona a sua banda de culto, lançando-se numa carreira a solo.
Tal como acontecera com os seus Smiths, o primeiro longa duração de Morrisey - Viva Hate - foi bastante bem aceite pela crítica. No entanto, alguma falta de zelo atrasa-o no lançamento do segundo registo o que, aliado à nova cena de Manchester (com nomes como os de Stone Roses e Happy Mondays), o transforma numa antiguidade pop.
Com uma longa travessia no deserto, e mesmo com alguns discos no mercado e com um período de sete anos de inércia criativa, só em 2004 Morrissey perde o estatuto de relíquia e é elevado a lenda viva do rock. You are the Quarry recoloca-o nos escaparates e arma-o na conquista de Inglaterra e América.
Até ao final da década de 00, o antigo rosto dos Smiths mostra-se por mais duas vezes - Ringleader of the Tormentors (2006) e Years of Refusal (2009) - mas é do sumo dos últimos cinco anos da sua carreira, que se faria o cocktail com que agora brindo a Morrissey. Competente, ousado, sinfónico, são alguns dos sinónimos que poderiam caracterizar Swords, uma colectânea vintage de lados-B que espanta por alguns dos temas renegados às suas principais edições.
Não é o melhor de 2009 mas é, para mim, o mais surpreendente.

domingo, 3 de janeiro de 2010

Mercado de 2009 (II)


Melhores capas de álbuns nacionais (fotos):


3) Cacique 97 - s/t



2) Sean Riley and The Slowriders - Only Time Will Tell



1) The Legendary Tigerman - Femina