
Depois do segundo golo do Liverpool, veio a confirmação oficial. O Bandido só entrava às 22h.
Quando entrei numa Aula Magna que prometia boa assistência, estava longe de imaginar casa cheia - mais longe estava de imaginar o que teria Manel Cruz preparado para o seu mais recente projecto, Foge Foge Bandido.
Cinco minutos após o desmoronar do sonho europeu do meu Benfica (ficando na sala a solução para o problema "atraso"), o Bandido entrou em palco e pôs na mesa um dos seus trunfos (diga-se em abono da verdade, que excelentemente acompanhado de uma sólida quadrilha). Aplausos (merecidos) concluídos e senti que este não seria um concerto de ouvir e cantar, mas de experimentar.
O mote de Borboleta, a apoteose de Canção da Canção Triste, a par de temas como Canção Zero, Tempo Sem Mentira e Eleva foram as iguarias de uma noite de Luz (apenas a necessária para enquadramento dos diferentes elementos e que, na minha opinião, teria mais brilho se se mantivesse o quadro original da sala, em detrimento do fundo negro), Experiência, Som.
Se já há mistério na transfiguração de uma catedrática sala universitária numa mítica sala de espectáculos, foi sónica a forma arrojada como Nuno Mendes, Eduardo Silva, António Sérginho, Nicolas Tricot e o próprio Manel Cruz pareceram recriar um complexo laboratório experimentalista. Tudo serviu, tudo valeu, tudo se transformou - as guitarras pareciam tocar apenas o óbvio, havia uma profundidade quase nostálgica nas notas do baixo, a bateria electrónica suava a espacial, elevaram-se os sintetizadores, coroaram-se as percussões, tachos, serrotes e um ensurdecedor clarinete foram reinventados e a voz de Manel que, no sopro ou no seu esplendor, não nos fez esquecer as suas origens.
Quando se soltou este Bandido, num projecto que parecia difícil de transpor para palco e que resultava em prestações suadas e por vezes problemáticas (longe vão os tempo do Festival para Gente Sentada), poderá ter-se pensado que esta seria apenas mais uma face do homem que tornou míticos os Ornatos Violeta (curioso o facto de se terem extinto no auge e de hoje serem admirados por quem nunca teve oportunidade de os ver). Na passada quinta-feira, em duas horas de um concerto supersónico, Manel Cruz provou que este mais que projecto, é na realidade uma verdadeira banda.
Valeu a pena ter entregue o ouro a este Bandido (só foi pena o meu Benfica).
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