
Guardo num cantinho da memória o dia em que, orgulhosamente, assinei o meu nome no colarinho de Nuno da Câmara Pereira (num LP com fotografia do próprio em pose monárquica qb) para que, com o mesmo orgulho, o oferecesse a meu pai, a propósito do seu aniversário – o dia e o tempo em que o Círculo de Leitores era das poucas fontes que jorrava música lá por casa. Há data, era o fado o que mais se ouvia.
Estaria a mentir, nem seria honesto comigo próprio, se afirmasse que o fado se diluiu ou desapareceu da minha história com a música. Sigo com entusiasmo a reinvenção do fado na obra de Mariza, o glamour na voz de Ana Moura, agradam-me as raízes do fado faduncho de Carminho.
E se de repente o fado se envolvesse num projecto folk e, em fusão com a música tradicional escandinava, resultasse numa sonoridade popular transeuropeia? – É isso que nos propõe o Stockholm Lisboa Project.
Simon Stalspets (mandola nórdica, harmónica e voz), Sérgio Crisóstomo (violino e voz), Luís Peixoto (bandolim, bouzouki e voz) e Liana (voz) uniram as pontas da Europa, com o objectivo primeiro de enaltecer as suas raízes culturais. Em Sol, primeiro registo do projecto editado em 2007 e só recentemente por mim descoberto, transportam os seus ouvintes numa viagem entre a polka, o bairrismo lisboeta, a lezíria ribatejana e os cantares tradicionais portugueses – nota elevada para a recolha da tradição folk portuguesa e arranjos musicais, nota moderada para a escolha dos fados (para mim, talvez um pouco óbvios).
Dan Lundgerg, etnomusicologista e director da Svenskt visarkiv Musician, pergunta "haverá algo que una a polka sueca ao fado português?". Talvez o seu lugar ao sol.
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