sábado, 26 de março de 2011

Lugar à canção

Estava longe de imaginar, que o meu jantar da última quinta-feira teria sido cozinhado no ano de 2006. Mais longe estaria, de atribuir a sua confecção e receita ao chef John Carney, e que a sua degustação durasse precisamente oitenta e três minutos – falo-vos de Once (No mesmo tom, na tradução portuguesa), um filme que vi por acaso e que me delicia com cinco anos de atraso.

Quando o jovem Glen Hansard abandonou os estudos para se apresentar como músico às ruas de Dublin, não pensaria que volvidas mais de duas dezenas de anos esse seria o seu argumento para o mundo. Quando o músico Glen Hansard se reuniu com a cantora e multi-instrumentista Markéta Irglová, para que nascesse o projecto The Swell Season, não pensaria o quão longe poderiam viajar as suas canções. Quando o actor Glen Hansard se revela como protagonista de um filme indie, não imaginaria o seu nome escrito na galeria de notáveis de Hollywood.

Realizado pelo irlandês John Carney, Once é uma história simples. Sem qualquer notabilidade de imagem, sem truques e efeitos visuais, sem grandes interpretações ou riqueza de argumento, este é um filme que fala do sonho, que enaltece as relações e que se centra em grandes canções. Vencedor do Óscar da Academia para melhor música original e aclamado pela crítica musical, Once elevou a minha visão de banda sonora – é que aqui há espaço para se ouvir cada canção, como a voz de uma personagem com lugar no guião.





sábado, 12 de março de 2011

Onde é que eu já ouvi isto?

Corro o risco de vos escrever em plena hora de ponta da anunciada manifestação da Geração À Rasca. Faço-o consciente da minha falta de comparência e motivado por três grandes estandartes: a vitória dos Homens da Luta na última edição da Festival da Canção; a entrevista de Mário Crespo a Gel, que tive oportunidade de ver ontem num dos jornais nocturnos da SIC Notícias; e o facto de, quer queiramos quer não, se falar de música.

Já muito se disse sobre o que poderá ter motivado um tão grande número de votos a favor dos Homens da Luta, mas se recuar no tempo e me remeter ao concerto de encerramento do Optimus Alive!10, não me custa imaginar que tal moldura humana tenha alegremente contribuído com o seu clic online (e quem sabe com generosos 0,60€ + IVA).

Muito se especulou também, sobre a qualidade (ou falta dela) da interventiva canção Luta é Alegria, mas neste campo não posso deixar de referir alguns factos:

1- 1- Longe vão os tempos de glória da aclamada música ligeira, que tão boa gente colocou na Eurovisão em defesa das cores nacionais.

2- 2- Muitas das denominadas grandes vozes do panorama musical português, revelaram-se maiores fracassos nas votações do tão aclamado festival.

3- 3- Parece-me um pouco excessivo que tantos Pedros Miguéis tenham tentado elevar o estatuto português, com resultados tão medíocres e sem qualquer expressão de vitória.

4- 4- Se o grande receio é que o país saia envergonhado com a prestação de Gel & Cia, faço minhas as palavras de Bruno Nogueira relembrando as cestas de fruta trincada e papagaios voadores, que obrigamos a Europa a ouvir.

No próximo mês de Maio, com ou sem vergonha, com maior ou menor espaço à revolução, os Homens da Luta serão em solo Alemão a voz de um povo que parece não querer ficar calado, recordando que a sua sonoridade é a que mais se aproxima da canção portuguesa mais votada em festivais da Eurovisão (lembram-se da Lúcia Moniz?).

Força camaradas!


quarta-feira, 9 de março de 2011

Sempre que o Homem quiser…

A vossos pés me confesso!

Tentei no princípio do ano que agora corre, imprimir maior regularidade a este meu blog. Reconheço a cada dia que, sendo pai de dois filhos, a tarefa não se torna fácil. Não posso, no entanto, deixar apenas guardado na minha caixa de memórias o que me acaba de entrar pela porta.

Depois do lançamento de mais um título do legado da Leopoldina, que a cada Natal o Grupo Sonae faz anunciar sob a tutela da solidariedade, pensei generosamente que a fonte da criatividade se tinha esgotado: mais um disco infantil, com as mesmas canções de sempre, na quadra mais apetecível a um qualquer disco infantil com as mesmas canções de sempre.

Descobri, tardiamente, que este não era um disco qualquer. Que afinal estas mesmas canções de sempre, eram interpretadas por nomes que poderão ficar para sempre.

Do fado de Ana Moura, ao funk dos Expensive Soul, do rock dos Xutos & Pontapés ao folk dos Anaquim, da visão de Legendary Tigerman ao génio de Deolinda, do sopro de Tiago Bettencourt (+ Sam the Kid) ao verbo de Pedro Abrunhosa, da sinceridade de Rita Redshoes à ingenuidade de Gomo, da mestria de David Fonseca à fantasia da infância, este é um disco que cresce a cada faixa, que nos transporta e faz viajar, que traz à pele os sonhos de ontem nas vozes de hoje.

Descobri, tardiamente, que me faltava magia no reportório, que teve tanto tempo guardada naquele que há muito me ia deitar… e que ingenuamente deixei esgotar.

Hoje tive mais Natal… porque afinal ele é sempre que o Homem quiser.




domingo, 9 de janeiro de 2011

Viva os Reis!

Três dias depois da chegada dos três reis magos a Belém, deixo-vos igual número de tão nobres referências musicais que (como artista, como banda e como álbum) preenchem, de forma mais ou menos preponderante, o meu caminho pelo universo da música.

BB King

Tenho pena do quão tarde entrou na minha vida o mestre do Blues – sentimento que se estende à imprevisão temporal em que tal aconteceu (terá sido numa parceria com alguém que já admirava?).

BB King deve o duplo B ao nome que utilizava enquanto animador da rádio WDIA (o Blues Boy numa frequência AM da estação de Memphis, Tennessee). Anos antes de ocupar este lugar, Riley Ben King tivera uma infância difícil, sofrendo de perto os horrores do trabalho das colheitas de algodão – mas de tal memória não reza a história.

Foi depois de completar 26 anos de idade (1951), e imediatamente após o seu primeiro grande êxito (Three O’Clock Blues), que BB King iniciou a sua rota de longas digressões pelos Estados Unidos da América. De pequenos cafés, a salões de dança, de clubes de jazz a grandes hotéis, de pequenos auditórios aos maiores (e melhores) recintos nacionais, depressa eclodiu pelo mundo coleccionando sucessos e reconhecimento – só em 1956, BB King e a sua banda actuaram em 342 espectáculos.

Até ao ano em que o primeiro Homem pisou a lua, a carreira e o sonho de BB King tornaram-se cada vez mais reais – em 1969 é convidado para abrir dezoito concertos dos Rolling Stones, torna-se presença assídua nos maiores festivais de jazz e estende as suas digressões a todo o mundo.

A década de 70 do antigo milénio marca (e confirma) o que já muitos adivinhavam. BB King colecciona Grammys, torna-se figura de proa da música mundial, ombreando com as suas grandes figuras de referência.

Actualmente, o rei do duplo B é um lenda viva. Considerado embaixador das guitarras Gibson no mundo, continua a norte da minha orientação musical.



Kings of Leon

O culto musical dirigido por vastos grupos familiares deixou de ser novidade, tal como o facto de ilustres chefes de família apresentarem (ou presentearem) os seus não menos ilustres descendentes à comunidade musical. O que nos dias de hoje será o mais recorrente, é que astutos agregados se unam em prol do seu bem comum.

Foi o que aconteceu a três irmãos oriundos do Tennessee e Oklahoma que, numa mescla com um dos seus primos, decidiram aventurar-se pelo universo do rock – falo-vos dos Kings of Leon (nome de homenagem ao seu pai e avô).

Sendo o seu primeiro registo de estúdio fruto da nova época (leia-se EP The Holy Roller Novocain de 03 dos novos anos 00), a aventura musical dos irmãos Nathan, Jared e Caleb começa no início da sua adolescência, apadrinhada por seu pai Leon – pastor da Igreja Pentecostal – que, preocupado com as suas homilias, os colocava prontos a acompanhá-lo nos registos musicais.

Até finais do antigo milénio, os filhos de Leon passam o tempo atendendo suas às necessidades nómadas. No entanto, e enquanto aprimoravam o seu irreverente gosto pelo rock, aliam-se ao seu primo Matthew gravando o já referido EP e no mesmo ano o seu primeiro álbum – Youth and Young Manhood, inclui novos temas e algumas reedições.

Aclamados como um dos colectivos responsáveis pela nova revolução do rock, o seu sucesso torna-se evidente quando bandas como The Strokes e U2 os convidam para assegurar as primeiras partes das suas digressões.

Ao segundo álbum, os Kings of Leon não se deixam pressionar pelo peso da responsabilidade e, dando continuidade ao efusivo rock de garagem praticado até então, mostram-se inabaláveis em Aha Shake Heartbreak (2005). Para além de evidente, o seu sucesso expande-se e a sua aclamação faz com que outros grandes nomes os voltem a chamar para os seus concertos (durante grande parte de 2005 e 2006, acompanharam os Pearl Jam e Bob Dylan).

Recordando uma conferência anual de pastores que regularmente participavam com o pai Leon, o colectivo lança o terceiro longa duração em 2007 com o nome Because of the Times. Para além do reconhecimento, são divulgados os primeiros grandes números da sua carreira – com um “modesto” 25º lugar nas tabelas norte-americanas, os Kings of Leon entram directamente para o primeiro lugar no Reino Unido, vendendo 70.000 cópias na primeira semana de lançamento.

Fugindo ao antigo ditado popular, só à quarta é que foi de vez - foi na minha habitual viagem rumo à calçada íngreme e disforme da vila de Palmela, que me apresentaram os Kings of Leon. Sex On Fire, chegou pela voz da Antena 3 e à primeira audição não acendeu mais que um curto rastilho. As audições deste tema sucederam-se, até Use Somebody tomar conta do seu lugar: agora apetecia-me mais e o frente a frente com Closer (título que abre o quarto álbum de originais da banda e, para mim, o tema de abertura mais intenso do novo milénio), colocou-os definitivamente no meu rol de preferências.

Only By The Night trouxe muito mais que números e regista no diário dos norte-americanos os primeiros prémios conquistados: Grammy para melhor álbum de 2008; Grammys para melhor actuação e canção rock, ambos com Use Somebody.

Com o seu quinto longa duração disponível desde Outubro de 2010, são significativas as vozes que se erguem em defesa de que este não será um registo tão feliz e/ou eficaz como o anterior, reforçando o estatuto de Only By The Night como o melhor da banda. Radioactive, primeiro avanço de Come Around Sundown, caiu-me no colo para não mais se levantar.



King For A Day… Full For A Lifetime

Quando o ainda jornal Blitz fez manchete com uma enorme fotografia de Axl Rose de frondoso laço rosa na cabeça, lembro-me de idealizar uma imagem arruaceira daquela que é hoje uma das minhas bandas de culto: os Faith No More.

À altura do artigo, os Californianos estabeleciam-se sob a tutela de Angel Dust e temas como Easy (junto da comunidade feminina), A Small Victory e Midlife Crisis elevavam bem alto a sua bandeira. Nesta altura, os Faith No More eram já incluídos em concertos de grandes nomes do panorama musical e nada faria prever que, no final da digressão promocional deste marco de estúdio, a banda viesse mais uma vez a ser abalada pela instabilidade na sua formação.

Estávamos em Março de 1995, quando os Faith No More lançavam no mercado o seu primeiro álbum sem o guitarrista Jim Martim. Ao mesmo tempo que acrítica apontava King For A Day… como o sinónimo perfeito do carácter experimentalista de Mike Patton, Digging the Grave entrava no meu mundo musical como uma fera devolvida ao seu habitat natural – primeiro estranhando, depois triunfando.

Da amálgama sonora gerada no seu quinto registo de estúdio, nasceram os êxitos que afastaram ou deram a (re)conhecer muitos dos seus fãs: o funk de Evidence; o metal de Cuckoo for Caca; ou a bossa nova de Caralho Voador.

Caso para dizer que depois de reis por um dia, me preencheram para a vida.



sábado, 1 de janeiro de 2011

Ainda a propósito…

Ainda a propósito da minha última publicação, e depois de adquirir o último número da revista Blitz, verifiquei com agrado que da lista dos 50 melhores solos de todos os tempos eleitos por esta redacção da especialidade, se incluem alguns que tão bem ilustram a história da minha vida.
Para que fique para a posteridade, deixo-vos com as minhas escolhas da tão ilustre lista (sem qualquer tipo de ordem preferencial ou cronológica):

1 «Stairway To Heaven», Led Zeppelin, 1971


2 «Hotel California», The Eagles, 1976
(os meus primeiros baladões – reserve-se a excepção dos slows de festa de aniversário)

3 «Sweet Child O’Mine», Guns N’Roses, 1988

4 «November Rain», Guns N’Roses, 1991
(a par do número 3, a porta de entrada para os ambientes mais pesados)


5 «Bohemian Rhapsody», Queen, 1975
(a descoberta de uma lenda)

6 «Smells Like Teen Spirit», Nirvana, 1991

7 «Alive», Pearl Jam, 1991


8 «Man In The Box», Aliced In Chains, 1990
(começava-se a escrever a história do grunge, enquanto se alargavam os meus horizontes musicais)

9 «Knights of Cydonia», Muse, 2006
(a certeza de uma banda épica)


10 «Fade To Black», Metallica, 1984
(uma grande música da banda da minha vida)


11 «Sultans of Swing», Dire Straits, 1977

12 «Surfing With The Alien», Joe Satriani, 1987
(duas grandes influências do grande Zé Manel)

13 «Floods», Pantera, 1996
(surgiu na altura em que o metal perdia o seu estatuto de exclusividade)

14 «No One Knows», Queens Of The Stone Age, 2002

15 «Seven Nation Army», White Stripes, 2003
(novos fenómenos do novo milénio)