sábado, 25 de abril de 2009

Abril da Revolução, Abril da Canção

Houve em tempos um Abril mais escuro, apertado. Houve em tempos um Abril que nos fazia temer as palavras, que as castrava e que as camuflava para que pudessem ter sentido.
Houve em tempos um Zeca, um José Mário, um José Jorge e um Barata Moura, um Ary e um de Carvalho, um Tordo, um Freire, e um e outro e outro ainda.
Houve em tempos um tempo, em que a canção parecia ter mais força, porque a força parecia, muitas vezes, vir da canção.
No dia e à hora marcada, o povo saiu à rua. No dia e à hora marcada, o povo fez-se também soldado, fez do cravo a sua arma e disparou para a liberdade.
Comemoramos hoje trinta e cinco anos de revolução. Comemoramos hoje trinta e cinco anos da força da canção.

sábado, 18 de abril de 2009

Menina mulher

Será possível juntar o vigor do sapateado flamenco a sonoridades como as de Azucar Moreno e Adelaide Ferreira, condensando-as num espectáculo acima da média?
Foi sem expectativas que entrei no cinema São Jorge, na passada quinta-feira. No átrio, entre algumas caras conhecidas do grande público e ilustres desconhecidos, destacavam-se os promotores do concerto que, entre cumprimentos e conversas mais ou menos alargadas, iam dando as coordenadas para o acontecimento da noite – poucos bilhetes para venda a assistentes comuns, um curto atraso para levantamento dos últimos convites e a informação de que este seria um espectáculo para ver hoje e comprar depois (percebi que longe de ser o puro concerto para fãs, seria, antes de mais, um concerto para ouvidos críticos).
Tal como anunciado, La Shica entrou no palco da Sala 1 do São Jorge tardiamente. Fizeram-se ouvir os primeiros acordes no contrabaixo que, unidos ao som do guitarrista Fernando (o brasileiro que impõe às suas cordas a força e estímulo ciganos) fizeram-me perceber que a noite não seria de exclusivo flamenco.
Não tinha grande conhecimento do trabalho desta menina espanhola (nem considero que, depois de assistir ao seu concerto, o tenha ganho), mas a forma como conduziu o seu tempo para a glória, a sua voz robusta, a simpatia e a simplicidade com que comunicava com o público, e a capacidade de unir as diferentes e inúmeras abordagens que trespassavam cada uma das suas músicas, conquistaram-me.
La Shica é flamenco (no esplendor do canto e da dança), é jazz, é pop, é rock, é hip-hop. La Shica é salero, é glamour, é entretenimento e espectáculo.
Como espectador, rendi-me. Se produtor, comprava.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Antes de ser…

Tornou-se comum, e é cada vez mais um dado adquirido, que o percurso de vida de determinada banda (e entenda-se por determinada, aquelas que já muito nos deram a ouvir) seja coroado com o regresso à luz do dia de algumas das suas pérolas – porque estão em ano de aniversário, porque se celebra o lançamento de um dos seus estandartes, porque, porque, …
Dezoito anos depois da sua primeira edição, os Pearl Jam presentearam os seus fãs com a reedição de Ten, disponível no mercado em versão deluxe (2 CD’s + DVD) ou de coleccionador (2 CD’s + DVD + 4 LP’s + K7 Demo com versão original + Notebook + Posters + Réplica + Concerto). Mas o que realmente me importa (por agora), é a descoberta de um dos rios que encheria o oceano de Seattle.
Nos anos 80, altura em que nos Estados Unidos a cena underground começava a criar um circuito que se distanciava das grandes editoras (com nomes como Minor Threat ou Butthole Surfers), Stone Gossard e Jeff Ament tomavam os seus lugares de guitarrista e baixista naquela que, para muitos, seria a banda precursora do grande movimento de Seattle, os Green River. Em entrevista a Anna Ward-Murphy, publicada na revista Blitz (Abril, 2009), Ament conclui que apenas copiavam o que já faziam os Black Flag, os Mötörhead e os Stooges e que isso viria a ser o grunge.

Dissolvidos os Green River, em 1988, Stone Gossar e Jeff Ament decidem continuar juntos e em plena actividade, chamando o guitarrista Bruce Fairweather , o baterista Greg Gilmore e o controverso vocalista Andrew Wood. Nasciam os Mother Love Bone.
Andrew Wood, influenciado por Led Zepplin e Aerosmith e revelando-se ao estilo glam, seria a figura central e o responsável máximo pela curta carreira dos Mother Love Bone. No ano seguinte à sua formação, o EP Shine veio contaminar o som local, predominantemente grunge, criando grandes expectativas para o seu primeiro registo de originais, Apple.

Dias antes do lançamento do promissor álbum (que viria a ser adiado para o final de 1990), Andrew Wood é encontrado com uma overdose de heroína, falecendo poucos dias depois com uma hemorragia cerebral e condenando a auspiciosa banda à extinção prematura.
Finda esta curta caminhada, Ament e Gossar convivem longe de pensar em novos projectos – Jeff Ament não desdenha, no entanto, uma curta incursão em concertos dos War Babies, enquanto Stone Gossar se juntava a Mike McCready, então guitarrista dos Shadow, para que trabalhassem nas suas novas canções.
A restante história rege-se pela batuta de Eddie Vedder e escreve-se sob o signo Pearl Jam.