terça-feira, 3 de março de 2009

Deolinda: Receita popular para uma noite fantástica.

Ingredientes:

José Afonso e António Variações, em doses generosas
Sérgio Godinho e Madredeus, qb
Alma de Amália Rodrigues e Alfredo Marceneiro
Pequenos detalhes de rembetika grega
Punhados de música ranchera mexicana
Espírito de samba
Movimentos e graciosidade havaianos
Requintes de jazz
Polvilhados de pop

Modo de preparação:

Compre bilhetes com a devida antecedência (os concertos de Deolinda têm fama de esgotar com alguma facilidade).
Numa qualquer sala ávida de boa música, envolva todas as influências e contagie-as nos diferentes ritmos e ambientes.
Deixe-se levar pela voz de Ana Bacalhau, pelas composições e guitarra clássica de Pedro da Silva Martins, pelo contrabaixo de Zé Pedro Leitão e pela mestria de Luís José Martins.
Apure os sentidos, aprimore o humor e abra o espírito para um bom serão de (também) fado.

A opinião do Chef:

A mesa estava posta. Os naperons perfeitamente alinhados. Ao fundo, DEOLINDA, a spray branco, fazendo lembrar as paredes (agora) escritas da velha Lisboa.
Entraram solenes e a meia-luz. Nas paredes da sala podiam-se adivinhar estendais e o cheiro a roupa branca. Mal Por Mal lançou-se na noite e preencheu o pouco que restava de uma sala já cheia.
A cada novo tema, Ana Bacalhau fazia questão de nos contar uma estória. Meninas apaixonadas, danças no baile, amores (im)possíveis, viagens de autocarro ou procissões de aldeia, iam libertando cada música, descodificando cada letra.
Durante, sensivelmente, uma hora e um quarto, Deolinda mostrou-se no seu álbum de estreia, abraçou a sala, sentou-se ao colo dos seus espectadores, num misto de euforia e intimismo. Ao desfile de Canção ao Lado, faltou apenas Fado Castigo, confirmando-se o enorme sucesso de temas como Fon-fon-fon e Fado Toninho (com direito a bis em dois encores reivindicados sob calorosos aplausos) e o enorme poder de vocalização da fadista, que oscila entre as danças havaianas e o folclore ribatejano.
Na noite em que o Fórum Cultural de Alcochete fechou o ciclo dedicado ao fado – Fado (Re)Visitado –, não se ouviu a guitarra portuguesa, a noite não se mostrou de ar triste e sério, não houve fatalismo nem apelo à saudade. Na noite deste fim de ciclo, o grande auditório do Fórum Cultural de Alcochete fez-se bairro, vestiu-se de cores garridas e soube dançar o fado.

Ah fadistas!

Alinhamento completo do concerto (28.Fev.2009 – Fórum Cultural de Alcochete)

Mal por mal
Fado Toninho
Não sei falar de amor
Contado ninguém acredita
Lisboa não é a cidade perfeita
Quando janto em restaurantes
Fon-fon-fon
Eu tenho um melro
Ai rapaz
Canção ao lado
Entre Alvalade e as Portas de Benfica
Garçonete da casa de fado
Movimento perpétuo associativo
Clandestino
O fado não é mau

1º encore

Fado notário
Fon-fon-fon

2º encore

Fado Toninho

1 comentário:

  1. Parabéns pela receita. Não só está bem escrita, como será fácil não fazer um bom "refugado" com tantos, tão explícitos e bons ingredientes.
    Que venham agora Bunnyranch (14 de Março), Mão Morta (28 de Março) e Rodrigo Leão (4 de Abril). A receita só tenderá a melhorar!

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