quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Portem-se bem!

Como eu tive o Búri, tantos outros como eu tiveram o seu espaço de conhecimento, de mergulho e/ou de crescimento musical – cada um com as suas regras e, acima de tudo, com o privilégio de filtrar o que por lá se ouvia.
No Búri (ou a Casa dos Postigos), os fins de tarde estendiam-se à noite e por lá corriam metros de cassete com os temas de eleição, ou assistia-se religiosamente às gravações (também) seleccionadas do que de melhor se apurava do saudoso POP OFF. Os Peste & Sida rodaram várias vezes.
1986 marca a primeira aparição dos então Peste del Pop em palco. Donos de um honroso último lugar num concurso de divulgação de novas bandas, ganham balanço para uma ambicionada carreira rock.
A partir do ano seguinte, e depois de adoptarem o controverso nome Peste & Sida, João Pedro Almendra (voz), João San Payo (baixo, voz), Luís Varatojo (guitarra, voz) e Fernando Raposo (bateria), estabelecem-se definitivamente no panorama da música moderna portuguesa presenteando os seus fãs com oito álbuns de originais, várias participações em compilações (destaque para Filhos da Madrugada, em homenagem a José Afonso) e a força das suas prestações ao vivo (1987-2007).
Chuta Cavalo, Sol da Caparica, Gingão, Paulinha ou Família Real, marcaram uma década e o percurso de uma banda que, andando por aí, soube espalhar o seu veneno.
Com João Pedro Almendra e João San Payo, resistentes da formação inicial, e João Alves e Docha a completar o novo colectivo, os Peste & Sida assinalaram os seus vinte anos de carreira com um espectáculo ao vivo no Music Box, no passado dia doze de Fevereiro.
Muitos parabéns e... portem-se bem!

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Pintado a Aguardela

A capacidade adquirida que temos para classificar, avaliar ou considerar, está intimamente ligada a conteúdos qualitativos tão díspares como o Ser criativo, o Ser vulgar, o Ser pioneiro, o Ser capaz ou o Ser visionário. É disto que vos quero falar.
Quando, no início dos anos 90, se mostra na estreia de Sitiados, João Aguardela torna público o esboço do que pretendia desenhar. A pop ganhava novos contornos, nova alegria e uma nova energia nas suas prestações ao vivo.
O início do novo milénio marca o fim do seu primeiro projecto e a afirmação de uma caminhada pessoal. Em entrevista ao jornal Público (1997) diz-se demasiado tradicional para o meio pop e pop demais para o meio tradicional, denunciando-se sob a pena de Megafone. Na mistura da electrónica com diferentes recolhas etnográficas, mostra-se cada vez mais ousado e original num misto urbano e rural.
O Megafone faz-se ouvir por quatro álbuns e em 2002, na companhia de Luís Varatojo e outros líderes de bandas nacionais, emerge na Linha da Frente oferecendo nova roupagem a autores tão consagrados como Ary dos Santos.
Recentemente, e ainda na companhia de Varatojo, João Aguardela fazia d’A Naifa a reinvenção do fado e a exaltação das raízes e das memórias de um país que queria diferente.
Regido por enorme criatividade, visto como pioneiro e visionário, foi sempre capaz de acrescentar à nossa música um acorde longe do vulgar. Completava este mês 40 anos de idade.
João viveu pintado a Aguardela.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Mais vale tarde...

Descobri o projecto RED HOT dez anos depois da sua edição portuguesa. Sob a guarda de uma boa dúzia de Vascos cuidadosamente pendurados e com a etiqueta da saudosa Expo 98, as lombadas alinhadas no balcão da loja do Oceanário mostravam o nome RED HOT+LISBON.
Movido pela constante vontade de ampliar o meu espólio musical, li com a devida atenção o alinhamento desta compilação. David Byrne+Caetano Veloso (num dueto que julgava pouco provável) e nomes como Carlinhos Brown e Smoke City, impulsionaram a troca de duas moedas com o cunho do selo real português (1144), pela vontade de experienciar tal amálgama artística.
Criado com o objectivo de sensibilizar as atenções para o impacto causado pelo crescente surto da epidemia da SIDA, Onda Sonora: Red Hot+Lisbon, desfila vinte e três temas que navegam desde os ambientes carnavalescos, às raízes africanas e ao fado de Coimbra.
Um disco para ouvir sem preconceitos.