BB King
Tenho pena do quão tarde entrou na minha vida o mestre do Blues – sentimento que se estende à imprevisão temporal em que tal aconteceu (terá sido numa parceria com alguém que já admirava?).
BB King deve o duplo B ao nome que utilizava enquanto animador da rádio WDIA (o Blues Boy numa frequência AM da estação de Memphis, Tennessee). Anos antes de ocupar este lugar, Riley Ben King tivera uma infância difícil, sofrendo de perto os horrores do trabalho das colheitas de algodão – mas de tal memória não reza a história.
Foi depois de completar 26 anos de idade (1951), e imediatamente após o seu primeiro grande êxito (Three O’Clock Blues), que BB King iniciou a sua rota de longas digressões pelos Estados Unidos da América. De pequenos cafés, a salões de dança, de clubes de jazz a grandes hotéis, de pequenos auditórios aos maiores (e melhores) recintos nacionais, depressa eclodiu pelo mundo coleccionando sucessos e reconhecimento – só em 1956, BB King e a sua banda actuaram em 342 espectáculos.
Até ao ano em que o primeiro Homem pisou a lua, a carreira e o sonho de BB King tornaram-se cada vez mais reais – em 1969 é convidado para abrir dezoito concertos dos Rolling Stones, torna-se presença assídua nos maiores festivais de jazz e estende as suas digressões a todo o mundo.
A década de 70 do antigo milénio marca (e confirma) o que já muitos adivinhavam. BB King colecciona Grammys, torna-se figura de proa da música mundial, ombreando com as suas grandes figuras de referência.
Actualmente, o rei do duplo B é um lenda viva. Considerado embaixador das guitarras Gibson no mundo, continua a norte da minha orientação musical.
Kings of Leon
O culto musical dirigido por vastos grupos familiares deixou de ser novidade, tal como o facto de ilustres chefes de família apresentarem (ou presentearem) os seus não menos ilustres descendentes à comunidade musical. O que nos dias de hoje será o mais recorrente, é que astutos agregados se unam em prol do seu bem comum.
Foi o que aconteceu a três irmãos oriundos do Tennessee e Oklahoma que, numa mescla com um dos seus primos, decidiram aventurar-se pelo universo do rock – falo-vos dos Kings of Leon (nome de homenagem ao seu pai e avô).
Sendo o seu primeiro registo de estúdio fruto da nova época (leia-se EP The Holy Roller Novocain de 03 dos novos anos 00), a aventura musical dos irmãos Nathan, Jared e Caleb começa no início da sua adolescência, apadrinhada por seu pai Leon – pastor da Igreja Pentecostal – que, preocupado com as suas homilias, os colocava prontos a acompanhá-lo nos registos musicais.
Até finais do antigo milénio, os filhos de Leon passam o tempo atendendo suas às necessidades nómadas. No entanto, e enquanto aprimoravam o seu irreverente gosto pelo rock, aliam-se ao seu primo Matthew gravando o já referido EP e no mesmo ano o seu primeiro álbum – Youth and Young Manhood, inclui novos temas e algumas reedições.
Aclamados como um dos colectivos responsáveis pela nova revolução do rock, o seu sucesso torna-se evidente quando bandas como The Strokes e U2 os convidam para assegurar as primeiras partes das suas digressões.
Ao segundo álbum, os Kings of Leon não se deixam pressionar pelo peso da responsabilidade e, dando continuidade ao efusivo rock de garagem praticado até então, mostram-se inabaláveis em Aha Shake Heartbreak (2005). Para além de evidente, o seu sucesso expande-se e a sua aclamação faz com que outros grandes nomes os voltem a chamar para os seus concertos (durante grande parte de 2005 e 2006, acompanharam os Pearl Jam e Bob Dylan).
Recordando uma conferência anual de pastores que regularmente participavam com o pai Leon, o colectivo lança o terceiro longa duração em 2007 com o nome Because of the Times. Para além do reconhecimento, são divulgados os primeiros grandes números da sua carreira – com um “modesto” 25º lugar nas tabelas norte-americanas, os Kings of Leon entram directamente para o primeiro lugar no Reino Unido, vendendo 70.000 cópias na primeira semana de lançamento.
Fugindo ao antigo ditado popular, só à quarta é que foi de vez - foi na minha habitual viagem rumo à calçada íngreme e disforme da vila de Palmela, que me apresentaram os Kings of Leon. Sex On Fire, chegou pela voz da Antena 3 e à primeira audição não acendeu mais que um curto rastilho. As audições deste tema sucederam-se, até Use Somebody tomar conta do seu lugar: agora apetecia-me mais e o frente a frente com Closer (título que abre o quarto álbum de originais da banda e, para mim, o tema de abertura mais intenso do novo milénio), colocou-os definitivamente no meu rol de preferências.
Only By The Night trouxe muito mais que números e regista no diário dos norte-americanos os primeiros prémios conquistados: Grammy para melhor álbum de 2008; Grammys para melhor actuação e canção rock, ambos com Use Somebody.
Com o seu quinto longa duração disponível desde Outubro de 2010, são significativas as vozes que se erguem em defesa de que este não será um registo tão feliz e/ou eficaz como o anterior, reforçando o estatuto de Only By The Night como o melhor da banda. Radioactive, primeiro avanço de Come Around Sundown, caiu-me no colo para não mais se levantar.
King For A Day… Full For A Lifetime
Quando o ainda jornal Blitz fez manchete com uma enorme fotografia de Axl Rose de frondoso laço rosa na cabeça, lembro-me de idealizar uma imagem arruaceira daquela que é hoje uma das minhas bandas de culto: os Faith No More.
À altura do artigo, os Californianos estabeleciam-se sob a tutela de Angel Dust e temas como Easy (junto da comunidade feminina), A Small Victory e Midlife Crisis elevavam bem alto a sua bandeira. Nesta altura, os Faith No More eram já incluídos em concertos de grandes nomes do panorama musical e nada faria prever que, no final da digressão promocional deste marco de estúdio, a banda viesse mais uma vez a ser abalada pela instabilidade na sua formação.
Estávamos em Março de 1995, quando os Faith No More lançavam no mercado o seu primeiro álbum sem o guitarrista Jim Martim. Ao mesmo tempo que acrítica apontava King For A Day… como o sinónimo perfeito do carácter experimentalista de Mike Patton, Digging the Grave entrava no meu mundo musical como uma fera devolvida ao seu habitat natural – primeiro estranhando, depois triunfando.
Da amálgama sonora gerada no seu quinto registo de estúdio, nasceram os êxitos que afastaram ou deram a (re)conhecer muitos dos seus fãs: o funk de Evidence; o metal de Cuckoo for Caca; ou a bossa nova de Caralho Voador.
Caso para dizer que depois de reis por um dia, me preencheram para a vida.